quinta-feira, 31 de março de 2011

A esperança

Sertã - 2011
Aceso,
Ilumina o Sol a cidade, 
Na face de uma mãe reflectido,
E na de seus rebentos,
Que, como planetas...
Giram e rodam à volta dessa,
Que é mais sol que o próprio Sol,
Numa qualquer paragem de qualquer rua.


Com remendos,
Oculta da sua saia a pobreza.
Mas o vestido da sua dignidade é de uma só peça.
Com seu sorrir,
Distribui todas as suas posses,
Reservando contudo para os pequenos,
Um brinquedinho:
Suas rudes gorssas pernas,
Quais esquinas ou postes
De uma baliza de futebol.


Com a musical anestesia nos ouvidos,
Ao lado, de negro,
Metal na cara,
O rapaz olha e não vê.
Os olhos não vêm a calçada,
Mas piso;
Nem crianças,
Mas empecilhos;
Nem um autocarro,
Apenas um bilhete para o egoísmo,
No virtual redoma de seu quarto.


Não sabe ela o que comerá amanhã.
Se duma mesa cairão migalhas,
Ou num caixote ficarão restos
Do que a gula do rapaz não consumiu.
Ela não sabe.


Já ele,
Amanhã a ementa é igual:
Doces falsas promessas...
De tão amargo trave,
Como a água do mar,
Que só aumenta a sede.


Olha ela p'ra ele.
Ri-se primeiro.
Tem pena a seguir.
Porque por muitas promessas que ele coma,
E muitas refeições que a ela faltem,
A esperança nutre-a.

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