
A campainha soa. Como uma trombeta assinalando uma batalha que se repetia todas as manhãs e que ele sabe que irá perder mais uma vez. Sente que não vale a pena lutar e aquilo pelo qual todos lutam já está farto de ser objecto de guerra injusta e traiçoeira. Limita-se a desfrutar dos despojos da batalha, como um abutre. Não um abutre mesquinho, mas um abutre literalmente esfaimado, destinado a obedecer ao ciclo da batalha e da vida. Tempos houvera em que tentara batalhar. Mas ao não o fazer ganhara o respeito dos tais despojos, que não eram despojos de todo, mas sim uma senhora de cabelo castanho claro pintado, com uma bata azul às riscas que distribuía, qual Pai Natal de centro comercial, doces às crianças e também outras delícias (ou não) de pastelaria.
-“Então diz lá, Cerdeira.”
-”É um folhado de salsicha, se faz favor.” Os seus olhos só aí se abrem verdadeiramente pois uma noite mal dormida surtia agora os seus efeitos. Ninguém sabia se os olhos eram sono, maneira de ser muito estranha e peculiar dele, ou até, fantasiavam alguns, meio a sério, meio a brincar, drogas. A isto normalmente ele respondia “É verdade, ando a “snifar” pó de giz, sabes como é.” Só quem o conhecia bem não estranhava nenhum dos seus comportamentos. Ele era assim, e sempre fora, pelo menos nos últimos anos. Na altura em que passa as portas de vidro do bar da Dª. Hermínia, a campainha anuncia a retirada. Em seguida, come o mais depressa possível e apressa-se para a aula.
Cedo descobre que tem um furo no horário e que poderia digerir decentemente aquilo que tinha entrado em menos dum minuto no início do seu sistema digestivo. À entrada do professor de Inglês na sala, quase deserta, com três alunos, dois de auriculares nos ouvidos e outro a escrever, sentado em cima duma mesa, ele finge rever alguma matéria. A sua consciência dizia-lhe que devia estudar, mas o coração mole e preguiçoso segredava-lhe ao ouvido para continuar o seu poema. Muita gente gostava dos poemas dele, ou ele o achava, e ele esforçava-se para não matar a galinha dos ovos de Ouro. Mas para isso, tinha de a alimentar. Só da primeira vez que a tinha descoberto, o ovo saiu do nada.
Enquanto escreve, faz cada vez mais esforço para que a tinta saia da sua pena moderna. Terminado o descanso, altivo e imponente, um homem entra na sala. Da sua boca lá fora, saíram palavras que despertavam inúmeras gargalhadas (“Quem der mais porrada no Aníbal leva um chocolate.”). Começando a falar, todas as canetas começavam a sua melodia. Ninguém esperava o mover do giz no quadro. Entre frases o seu pensamento voava.
Sempre que estava sentido ou em baixo, imaginava-se em recordações alegres. A que lhe entrava na mente, agora, estava bem nítida. Era recente, deste Verão. Agora ele está numa piscina, acima da água, e com as mão nos ombros de uma rapariga, lutando para a conseguir submergir e quando consegue ela emerge e faz-lhe o mesmo. Como a maioria dos rapazes,ele tem os braços mais fracos que ela (fruto do muito desporto que ela faz) e rapidamente desiste de a superar, indo os dois para a borda da piscina descansar. Alegres.
Quando abre os olhos, o homem dirige a orquestra de
instrumentos monotonamente regulares com a batuta da sua oratória. No momento em que pára outra vez, ele desloca-se no tempo e no espaço para recomeçar a memória, feliz, como que essa sim fosse a sua droga.
Nesse dia, as coisas compuseram-se, mas apenas para conforto e engano dos sentidos a sua mente voava em direcção ao sítio onde o seu corpo nadava e ele brincava como criança com uma companheira de brincadeira. Noutra altura talvez sonhasse com outro momento, mas agora sabia-lhe tão bem aquele, que não queria mudar. Nem para melhor, nem para pior, assim estava bem… E continuava, teatralmente feliz…para que pudesse sê-lo também na realidade ("Quem não faz como pensa, acaba por pensar como faz." Sto. Agostinho).
-”É um folhado de salsicha, se faz favor.” Os seus olhos só aí se abrem verdadeiramente pois uma noite mal dormida surtia agora os seus efeitos. Ninguém sabia se os olhos eram sono, maneira de ser muito estranha e peculiar dele, ou até, fantasiavam alguns, meio a sério, meio a brincar, drogas. A isto normalmente ele respondia “É verdade, ando a “snifar” pó de giz, sabes como é.” Só quem o conhecia bem não estranhava nenhum dos seus comportamentos. Ele era assim, e sempre fora, pelo menos nos últimos anos. Na altura em que passa as portas de vidro do bar da Dª. Hermínia, a campainha anuncia a retirada. Em seguida, come o mais depressa possível e apressa-se para a aula.
Cedo descobre que tem um furo no horário e que poderia digerir decentemente aquilo que tinha entrado em menos dum minuto no início do seu sistema digestivo. À entrada do professor de Inglês na sala, quase deserta, com três alunos, dois de auriculares nos ouvidos e outro a escrever, sentado em cima duma mesa, ele finge rever alguma matéria. A sua consciência dizia-lhe que devia estudar, mas o coração mole e preguiçoso segredava-lhe ao ouvido para continuar o seu poema. Muita gente gostava dos poemas dele, ou ele o achava, e ele esforçava-se para não matar a galinha dos ovos de Ouro. Mas para isso, tinha de a alimentar. Só da primeira vez que a tinha descoberto, o ovo saiu do nada.
Enquanto escreve, faz cada vez mais esforço para que a tinta saia da sua pena moderna. Terminado o descanso, altivo e imponente, um homem entra na sala. Da sua boca lá fora, saíram palavras que despertavam inúmeras gargalhadas (“Quem der mais porrada no Aníbal leva um chocolate.”). Começando a falar, todas as canetas começavam a sua melodia. Ninguém esperava o mover do giz no quadro. Entre frases o seu pensamento voava.
Sempre que estava sentido ou em baixo, imaginava-se em recordações alegres. A que lhe entrava na mente, agora, estava bem nítida. Era recente, deste Verão. Agora ele está numa piscina, acima da água, e com as mão nos ombros de uma rapariga, lutando para a conseguir submergir e quando consegue ela emerge e faz-lhe o mesmo. Como a maioria dos rapazes,ele tem os braços mais fracos que ela (fruto do muito desporto que ela faz) e rapidamente desiste de a superar, indo os dois para a borda da piscina descansar. Alegres.
Quando abre os olhos, o homem dirige a orquestra de
instrumentos monotonamente regulares com a batuta da sua oratória. No momento em que pára outra vez, ele desloca-se no tempo e no espaço para recomeçar a memória, feliz, como que essa sim fosse a sua droga.
Nesse dia, as coisas compuseram-se, mas apenas para conforto e engano dos sentidos a sua mente voava em direcção ao sítio onde o seu corpo nadava e ele brincava como criança com uma companheira de brincadeira. Noutra altura talvez sonhasse com outro momento, mas agora sabia-lhe tão bem aquele, que não queria mudar. Nem para melhor, nem para pior, assim estava bem… E continuava, teatralmente feliz…para que pudesse sê-lo também na realidade ("Quem não faz como pensa, acaba por pensar como faz." Sto. Agostinho).
7 comentários:
olha que também te sais muito bem na prosa :)
pois sais...
eu reconheci-me como um dos gajos que esta com auriculares nos ouvidos... uhuu estou numa historia -_- lol .P
continua a escrever
sim sim lourenço tu tas na história... ms eu sou a recoradaçao feliz... hehe
adorei aqueles diazinhos de verao!!! bjo enorme
"E continuava, teatralmente feliz…para que pudesse sê-lo também na realidade."
:) A melhor frase é a do final!
Gostei muito. Não tens só jeito para poemas!
Beijinhos
Porraa! Rapaz tens jeitu! K inveja!! *.*
Opá o que queres que diga ?!
Escreves bem tontinho !
Adoro-te !
Jeito nao te falta!
Faço das palavras da isabel as minhas palavra.:)gostei bastante
beijinhos
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